nel Visitante
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Enviada: Sex Dez 15, 2006 9:48 am Assunto: Os limites da humanização |
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A maioria dos cães de companhia são tratados como se fossem humanos. Isto não seria grave se houvesse o sentido do equilíbrio, que é o estabelecimento da fronteira entre a condição do cão como animal, tal como ele efectivamente é, e o homem. Normalmente isto não é compreendido nem assumido pelos donos.
O “fenómeno” do cão de companhia ou, em termos mais latos, do animal de estimação envolve aspectos muito complexos que não cabem nestas considerações sumárias. São aspectos de carácter urbanístico, muito evidentes nos grandes centros urbanos, problemas sociais e psicológicos que a própria vivência urbana gera, como o isolamento,etc., etc.
De qualquer modo, o animal de companhia veio para ficar e ficou mesmo. Isto é inegável e irreversível e interessa encarar esta situação de forma lúcida e inteligente, tentando compreendê-la numa NOVA DIMENSÃO, que nem sempre é assumida como tal por muitas pessoas.
Mas não se julgue que isto é uma extravagância da nossa era. Em tempos remotos, como revelam tantas gravuras, já o cão era um “mero” animal de companhia.
Eu sempre fui um defensor do cão (também e exclusivamente) como animal de estimação, de forma perfeitamente assumida e lúcida, e procuro respeitar sempre os meus como animais que são, mas retribuindo-lhes o bem-estar que merecem, em parte como reconhecimento do que eles me oferecem, que é muito.
Esta relação é muito crítica e merece uma atenção extrema, sob pena de, se nos esquecermos que eles são efectivamente animais e não pessoas, acabarmos por humanizá-los.
Mas, concretizando melhor, não creio que os factores de humanização se traduzam exclusivamente em sentá-los à mesa, vestir-lhes umas fatiotas ou dar-lhes beijinhos. Estas atitudes, entre outras, poderão constituir factor de humanização, mas quando reforçam outras atitudes da parte dos donos.
Por isso, embora eu não pratique essas estravagâncias, também não as critico como reprováveis só por si.
Um dos factores de humanização dos cães, muito especialmente no meio urbano, resulta desde logo do facto de o animal viver inevitavelmente connosco dentro de casa.
Mas nós próprios também vivemos encaixotados uns em cima dos outros, em muitos casos num total isolamento em relação aos vizinhos e ao mundo. É assim que se vive nas grandes cidades. Gente só que, em muitos casos, encontra no convívio com o seu animal de companhia a única razão de existir.
O cão é um dos protagonistas desta história e, realmente, não quer nem tem culpa de ser humanizado, mas é-o porque na maioria das situações o dono não o compreende na sua verdadeira dimensão de animal.
Por vezes tenho expressões como esta: “eles merecem porque também são gente”.
É uma expressão carinhosa mas que não passa disso porque eles não a compreendem textualmente. O grande problema também não está em falar com o cão (quantos e quantos pastores, no seu isolamento, falam com as suas ovelhas!). Importante é o estabelecimento dos limites da humanização.
Lancei os dados. Não vou dar a minha opinião sobre quais considero serem esses limites.
Venha daí a vossa contribuição...
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